A operação do Sistema Interligado Nacional em 2021 tende a gerar preocupações. A meteorologia demonstra que o período seco já começou e que as chuvas não chegaram no nível esperado. Tanto que o último trimestre é o mais seco do histórico de 91 anos. Apesar dessa situação, o diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Carlos Ciocchi, diz que não há risco de desabastecimento.
“As preocupações são diárias no Operado, mas nada que implique em alerta ou alarme à sociedade. Temos recursos e fontes diferentes para o sistema com as térmicas respondendo bem”, disse ele em entrevista à Megawhat. “Nas condições de hoje não vejo desabastecimento, temos múltiplos recursos a serem utilizados”, acrescentou.
Ciocchi classificou o período chuvoso como frustrante. Lembrou que a hidrologia ficou melhor no Norte – onde chegou atrasado, mas chegou – e no Sul mas que na chamada ‘caixa d’água’ do país, o Sudeste/Centro-Oeste, os volumes ficaram bem abaixo do esperado.
“Saímos do período úmido em situação delicada e complexa, mesmo tendo usado de forma mais intensa as térmicas desde outubro com a autorização do CMSE”, destacou.
No momento, relatou Ciocchi, há um bom fluxo de energia vindo do Norte, ainda decorrente do período úmido, mas que em breve deverá terminar. É justamente por conta desse volume de água disponível que a UTE Porto do Sergipe ainda não foi despachada. Ele explicou que no momento há um gargalo de transmissão entre os submercados com o Sudeste/Centro-Oeste e Sul. Então, com a redução das afluências no Norte a térmica a GNL deverá começar a ser despachada. A previsão é para o mês de maio. Segundo ele, essa restrição de transmissão deverá ser resolvida com obras que estão em andamento e deverão ficar prontas entre 2022 e 2023.
Ainda entre os recursos estimados para atender a demanda no ano. O diretor geral indicou a perspectiva de aumento da geração térmica, recorrer à biomassa, importação de energia da Argentina e Uruguai de forma mais intensa a partir de agosto ou setembro. Outra expectativa positiva recai sobre a fonte eólica que vem apresentando boa safra de ventos e à solar que também vem apresentando recordes de geração.
Ciocchi lembra que o ONS olha com um futuro de cinco anos. Nesse meio do caminho, em 2022, ele aponta que é possível, e que já há empresas indicando que as afluências possam voltar em volume para o replecionamento dos reservatórios, o que não foi possível nesse ano. Mas, ao mesmo tempo há obras de geração e transmissão em andamento que trazem mais tranquilidade ao ONS.
“São diversas variáveis que temos pela frente e que o setor elétrico tem trabalhado para que as obras e novos recursos entrem a tempo na eventualidade de termos um outro ano seco, para que dessa forma tenhamos cada vez mais recursos e não apenas os hídricos”, comentou.
Um caminho são as térmicas que ele reafirma ver com bons olhos a entrada do gás na matriz elétrica. Aqui no Brasil essa fonte é considerada de expansão e não de substituição de outros combustíveis como ocorre na Europa na transição para as renováveis. Ele classifica térmica na base como importante, assim como na ponta para trazer mais estabilidade no atendimento.
Sobre a carga desse ano, Ciocchi disse que o consumo não tem se mostrado tão intenso quanto o previsto por conta da continuidade da pandemia, mas que não vem apresentando o tombo que caracterizou o segundo trimestre de 2020.